"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

HISTÓRIA MILITAR NA FRANÇA - A COLUNA DE VENDÔME

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Em nossas andanças por Paris, sempre de bike, visitamos a linda Place de Vendôme, na qual está a Coluna de Vendôme, símbolo da glória de Napoleão.

A Coluna de Vendôme, ou Coluna de Austerlitz, é um monumento situado na Praça de Vendôme, no 1.º arrondissement de Paris.  Foi erigida por ordem de Napoleão Bonaparte em 1806 para celebrar a sua vitória na batalha de Austerlitz, com uma estátua de si mesmo em traje de imperador romano na parte superior da dita coluna, que deveria chamar-se "Colonne de la Grande Armée" em homenagem aos seus soldados. O acesso à praça dá-se a partir das estações de metrô de Madeleine, Tuileries e Opéra.


O Monumento

Construída em pedra, a coluna é envelopada até à parte superior numa fita contínua de placas de bronze com baixos-relevos, que representam cenas da campanha austríaca. O bronze teria sido adquirido da fundição dos mil e duzentos canhões capturados em Austerlitz. A Coluna de Vendôme, nome pelo qual ficou sempre conhecida, foi inspirada no modelo da coluna de Trajano de Roma, mas um terço mais alta do que a romana, com 44,3 metros de altura e 3,60 metros de diâmetro. 

Está coroada por uma estátua de Napoleão I vestido de general romano, esculpida por Auguste Dumont, cujo sobrinho, Napoleão III, mandou construir. O seu fuste, com 98 tambores de pedra, está forrado com uma folha de bronze que teria saído da fundição dos supostos mil de duzentos canhões tomados pelos franceses aos inimigos russos e austríacos na Batalha de Austerlitz. 

Estátua de Napoleão, no topo da coluna, trajado como imperador romano.

A coluna é ornamentada com molduras helicoidais finas ao longo de 280 metros que envolvem o fuste no qual foram utilizadas 450 placas de bronze, com baixos-relevos que a compõem representando cenários de guerra da campanha austríaca. Diversos artistas participaram no seu desenho e decoração. Entre os mais significativos figuram: Jean-Joseph Foucou, autor de seis baixos-relevos, Louis Boizot, Bosio, Lorenzo Bartolini, Claude Ramey, Corbet e Ruxthiel.

Relevos helicoidais retratando as fases da Batalha de Austerlitz

A base da coluna de Vendôme foi construída em granito pórfiro de Córsega (Algajola), na qual está grafada a seguinte inscrição:

“NEAPOLIO IMP AVGMONVMENTVM BELLI GERMANICI ANNO MDCCCV TRIMESTRI SPATIO DVCTV SVO PROFLIGATI EX AERE CAPTO GLORIAE EXERCITVS MAXIMI DICAVIT"


História

A praça de Vendôme, requerida por Luís XIV e projetada por Jules Hardouin Mansart, possuía no centro uma estátua equestre do Rei Sol. A praça fora denominada Praça Luís, o Grande, mas, em 1792, os revolucionários destruíram a estátua, símbolo do poder real.

Em 1800, um decreto determinou a construção de uma coluna, no centro de cada departamento, e dedicada aos bravos homens de cada um deles. Em Paris, a 20 de março, Bonaparte, Primeiro Cônsul, decidiu construir uma coluna nacional na Praça da Concórdia, dedicada à Nação e uma coluna departamental na Praça de Vendôme.  A coluna nacional nunca fora construída, e na então projetada Place des Piques (ou Vendôme), apenas em 14 de julho de 1800 é que foi colocada a primeira pedra por Luciano Bonaparte, irmão de Napoleão e ministro do Interior, mas não foi concluída a sua construção. A ideia foi restabelecida em 1803 pelo Primeiro Cônsul, que confirmou a construção de uma coluna na praça Vendôme como aquela erigida em Roma, em honra de Trajano, ornamentada com 108 símbolos dos departamentos dispostos em espiral e encimada por uma estátua de Carlos Magno. 

A Coluna de Vendôme faz referência à vitória francesa em Austerlitz

A princípio dedicada à glória do povo francês, em breve a coluna tornar-se-ia a glória de Napoleão. Mas a construção foi demorada e estendeu-se até 1805, tendo em conta a fundição dos 1200 canhões capturados dos inimigos austríacos e russos (num total de 180 toneladas) para que o projeto, relançado por Vivant Denon, procedesse. A coluna foi concluída em 1810 em homenagem aos vitoriosos soldados franceses, e denominada coluna do Grande Armée. Uma estátua de Napoleão Bonaparte em traje de imperador romano foi acrescentada na parte superior da coluna, esculpida por Antoine-Denis Chaudet.

Em 1814 a estátua foi tomada pelas tropas aliadas que ocuparam Paris e substituída por uma bandeira branca, decorada com lírios, durante a Restauração. Em 1818, a estátua foi fundida e o bronze foi utilizado para a criação da estátua equestre de Henrique IV na Pont Neuf.

Durante a Monarquia de Julho, uma nova estátua do imperador, apelidado de "o Pequeno Cabo", obra de Charles Émile Seurre, (o atual Invalides), foi colocada no topo da coluna, no dia 21 de junho de 1833, na presença de Luís Filipe I, preocupado em restaurar um pouca da glória do Império. A estátua media 3,50 metros de altura. 


O editor do Blog junto à Coluna de Vendôme

Napoleão III ponderou sobre o perigo em que a estátua incorria na parte superior da coluna, tendo portanto, sido removida e substituída por uma cópia da primeira estátua nas vestes de imperador romano de Chaudet, realizada pelo escultor Auguste Dumont. A única diferença residiria no facto de a estátua de Chaudet representar o imperador segurando com a mão esquerda o globo da vitória e a sua espada na mão direita, enquanto que a estátua de Dumont representa Napoleão segurando com a sua mão esquerda a espada e o globo da vitória na sua mão direita.

O episódio mais marcante ocorreu na época da insurreição da Comuna de Paris. O pintor Gustave Courbet que, após a Guerra Franco-Prussiana, na sequência de uma petição ao governo da Defesa Nacional em 14 de setembro de 1870, pediu a demolição da coluna, ou que deseja tomar a iniciativa, encarregando a administração do Museu de Artilharia, e fazendo transportar o material para o Hôtel des Monnaies. Sua intenção era reconstruir o Invalides. Porém a insurreição da Comuna de Paris ganhou força e outros propósitos. 

A coluna derrubada durante a Comuna de Paris

De acordo com o historiador Betrand Tilier, "a comuna de Paris considerou que a Coluna de Vendôme era um monumento bárbaro, símbolo da força bruta e da falsa glória, uma afirmação do militarismo, a negação do direito internacional, um permanente insulto dos vencedores aos vencidos, um perpétuo ataque a um dos três grandes princípios da República Francesa, a fraternidade, e decretaria: A coluna de Vendôme seria demolida".

Courbet, arrastado pela tempestade não pôde reverter a decisão e, um pouco contra a sua vontade, tornou-se historicamente responsável pela destruição da coluna. A 16 de maio de 1871, a coluna foi demolida frente de uma multidão. Após a queda da Comuna, as placas de bronze foram recuperadas e a coluna reconstruída tal como a vemos atualmente.  Courbet foi condenado a pagar os custos da reconstrução, mas morreu antes do vencimento da primeira parcela.

A coluna com iluminação noturna 

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