"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



sábado, 16 de maio de 2015

PERSONAGENS DA HISTÓRIA MILITAR – MARECHAL WILLIAM CARR BERESFORD

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* ??/??/1768 - Irlanda

+ 08/01/1854


William Carr Beresford nasceu em 1768 na Irlanda, filho ilegítimo do Marquês de Waterford e protegido pelo Partido Tory, onde era amigo de Arthur Wellesley. Serviu no Exército Britânico em Toulon (1793), foi tenente-coronel na Índia, coronel do 88º Regimento no Egito (1801), brigadeiro no Cabo da Boa Esperança, e ocupou Buenos Aires (1806), onde foi aprisionado. Comandou a ocupação da Madeira em dezembro de 1807 e aí aprendeu português. Comandou a expedição da Corunha em 1809 e regressou a Portugal.

Foi em Portugal Marquês-de-Campo-Maior, título recebido por decreto de 17 de dezembro de 1812 de D. Maria I, e Conde de Trancoso; Visconde de Beresford na Grã-Bretanha. Era de grande estatura e corpulento, sendo a presença realçada por um rosto muito irregular e de aparência algo sinistra, pois tinha o olho esquerdo vazado por um tiro, o que surpreendia os interlocutores. Nomeado Marechal do Exército, em março de 1809, pelo Conselho de Regência, Beresford aproveitou a reorganização das forças militares criada por D. Miguel Pereira Forjaz para a adaptar ao serviço de campanha nos moldes do exército britânico.

Encontrando o exército desfalcado pela ausência dos comandos no Brasil e na Legião Portuguesa, e pela relativa velhice e ineficácia de muitos dos oficiais, recorreu à atribuição de comandos a oficiais britânicos, tendo plenos poderes para nomear e demitir (hire and fire) os subordinados. Dentre outras medidas, Beresford criou os depósitos de recrutamento em Peniche, Mafra e Salvaterra; presidiu à distribuição das novas armas e equipamentos; levou um exército treinado à prussiana a manobrar à inglesa; introduziu Ordens do Dia para informar o exército e apurar a disciplina: tanto se lhe conhecem mandatos de prisão e de execução sumária sem julgamento em tribunal militar, como louvores e promoções por mérito. João Pedro Ribeiro chamou-lhe moderador e animador do exército.

Foi um enérgico administrador. Sendo o melhor dos segundos, Wellington preferia-o como seu lugar-tenente, posto muito evitado pelos generais britânicos mais antigos. Era pessoalmente muito bravo, destacando-se em Albuera, onde teve de combater a corpo-a-corpo com um lanceiro polaco, sendo depois auxiliado por um cavaleiro português. Em Salamanca, comandou pessoalmente o ataque da 3ª Brigada portuguesa que imobilizou o contra-ataque francês, ficando gravemente ferido.

Era adulado até 1815 pela população que reconhecia nele o artífice da vitória. Contudo, sua carreira de “protetor” de Portugal após o fim da guerra apagou muito do que lhe deve o país.

Após o julgamento e execução do tenente-general Gomes Freire de Andrade e outros, em 1817, deslocou-se ao Brasil para pedir maiores poderes. Havia pretendido suspender a execução da sentença até que fosse confirmada pelo soberano mas a Regência, "melindrando-se de semelhante insinuação como se sentisse intuito de diminuir-se-lhe a autoridade, imperiosa e arrogante ordena que se proceda à execução imediatamente" (Rocha Pombo, "História do Brasil", volume IV, p. 12). 

Beresford como comandante do Exército Português

Diz o mesmo autor: "Não pequeno susto causou no Rio a vinda inesperada de Beresford. Convocou imediatamente D. João o seu conselho." Achada a fórmula para a solução do momento, "reformou-se a constituição da Regência, reduzindo-lhe as funções ao meramente administrativo e concentrando a autoridade política nas mãos de um delegado imediato do soberano, com o título de marechal-general junto à sua real pessoa. Fizeram então voltar para Lisboa o marechal Beresford investido de tão alto posto, como se respondessem assim aos clamores do povo português - entregando-o à tutela humilhante, ao arbítrio e às truculências daquele estrangeiro."

Mas, afastando para a América o inglês, os absolutistas facilitavam a execução do plano dos liberais: assim que o marechal partiu, em 2 de maio de 1820, trataram os governadores do reino de estabelecer o mais cauteloso sistema policial e de repressão. Fechou-se Portugal ao mundo, e deixou-se a Regência ficar desapercebida dos riscos que sobrevinham. A cidade do Porto levantou-se então contra o obscuro regalismo da Regência. Ali se fundara o Sinédrio, ali Fernandes Tomaz e Silva Carvalho reuniam ao redor de si outros chefes de prestígio. Tudo se preparou para o rompimento, e pela madrugada de 24 de agosto rompeu a revolução.

No regresso do Rio de Janeiro pela nau Vengeur, fundeada no Tejo em 10 de outubro, Beresford foi impedido pela Junta de desembarcar em Lisboa e regressou à Grã-Bretanha.

Ainda esteve em Portugal em 1823 procurando vergar D. João VI às tentativas absolutistas de D. Miguel.

Contribuiu para as obras Strictures on Napier’s History e Further Strictures, escritas por Benjamin D'Urban, refutações da História da Guerra Peninsular de William Napier, que confirmam o respeito pelo exército português, que comandou durante onze anos.
 
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