"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



segunda-feira, 13 de agosto de 2012

GUERRAS DA UNIFICAÇÃO ITALIANA (1840-1861)

.



Desde a queda do Império Romano no século V, a Itália consistia em uma série de reinos e cidades-estado rivais, disputados e muitas vezes controlados por potências estrangeiras, em especial Espanha e Áustria.

Em 1796, Napoleão Bonaparte invadiu o norte da Itália para expulsar os austríacos. O domínio francês foi estabelecido no noroeste e na região central, enquanto o resto foi reorganizado nos reinos da Itália, ao norte, e da Sicília, no sul. O fracasso de Napoleão em unir a Itália levou os patriotas a formarem sociedades secretas, como a dos Carbonari, para lutar pela unificação.

Depois da derrota de Napoleão em 1815, os governantes e as fronteiras da Itália de antes da guerra foram restaurados, mas com a Áustria dominando um reino combinado Lombardia-Vêneto no norte e controlando três pequenos ducados no centro. A restauração provocou levantes em Nápoles, em 1820, no Piemonte e em Palermo, em 1821, e em Módena e nos Estados Pontifícios em 1831. Todos foram esmagados.

Os reveses, no entanto, estimularam um ressurgimento do nacionalismo. Radicais liderados por Giuseppe Mazzini e outros exilados na França organizaram o movimento Jovem Itália para substituir as antigas sociedades secretas e lutar pela unidade italiana. O movimento foi encorajado por Carlos Alberto, o novo rei do Piemonte e da Sardenha.


Primeira guerra italiana (1840-1849)

Em 1848 eclodiu uma revolução na França que repercutiu por toda a Europa. Os protestos estenderam-se até a áustria em março, com rebeliões contra o domínio austríaco irrompendo em Milão, na Lombardia e em Veneza. Aproveitando a debilidade austríaca, o rei Carlos Alberto, de Piemonte, declarou guerra à Áustria para expulsá-la da Lombardia e Veneza declarou sua independência.

O marechal austríaco Josef Radetzky retirou suas tropas de Milão e levou-as para o Quadrilátero: as cidades fortificadas de Verona, Mântua, Peschiera e Legnano. O Exército Piemontês sitiou e capturou Peschiera e preparou-se para ocupar a região montanhosa de Custoza. No entanto, os piemonteses foram derrotados por Radetzky em 1848. O marechal, então, reocupou Milão e expulsou os piemonteses da Lombardia. Foi declarada uma trégua, mas, quando a guerra foi retomada em março de 1849, as forças austríacas infligiram nova derrota aos piemonteses em Novara e acabaram com a independência de Veneza depois de um sítio em agosto.

Vítor Emanuel II, rei da Itália

Uma breve rebelião em Florença foi igualmente esmagada pelas tropas da Áustria. Todas as esperanças de expulsar os austríacos do norte da Itália foram perdidas, o que levou Carlos Alberto a abdicar em favor de seu filho, Vítor Emanuel II. No sul, os nacionalistas italianos proclamaram uma república em Roma, em fevereiro de 1849, e expulsaram o papa Pio IX. Em resposta, o rei de Nápoles e o novo presidente francês, Luís Napoleão, enviaram tropas para reempossá-lo. Ajudados pelo célebre militante nacionalista Giuseppe Garibaldi, que chegara da América do Sul no ano anterior, os romanos defenderam a cidade até a noite de 30 de junho, quando os franceses esmagaram a nova república.


O revolucionário Giuseppe Garibaldi


Segunda guerra italiana (1859-1861)

As esperanças nacionalistas de uma Itália unida pareciam destinadas ao fracasso. Os últimos levantes resultaram apenas na obtenção de uma Constituição liberal no Piemonte. No entanto, os acontecimentos logo mudaram em favor dos italianos. Em 1859 o primeiro-ministro piemontês, conde Cavour, assinou um tratado secreto com com o imperador francês Napoleão III para obter seu apoio contra a Áustria. Os austríacos foram então incitados a declarar guerra ao Piemonte, o que possibilitou a intervenção da França. E esta o fez rapidamente, deslocando 130 mil homens e o mesmo número de cavalos para a zona de guerra, no primeiro movimento militar maciço feito por ferrovias da história.

Os dois oponentes se confrontaram em Magenta, na Lombardia, em 4 de junho. Um pequeno contingente francês atacou do oeste através de um canal, enquanto uma força maior sob o comando do general MacMahon investiu do norte. No entanto, o progresso foi vagaroso, o que permitiu às tropas austríacas, bem mais numerosas, deter os franceses no canal. Os soldados de MacMahon entraram por fim na cidade ao cair da tarde, expulsando os austríacos após uma luta de casa em casa.
.

Napoleão III com seu estado-maior durante a Batalha de Solferino

As forças da Áustria retiraram-se para o leste, perdendo o controle de Milão, mas, em 24 de junho, os franceses os alcançaram inesperadamente em Solferino. A batalha resultante - caótica e sangrenta – foi decisiva. Os dois lados utilizaram mosquetes raiados que disparavam projéteis Minié, mas os 400 canhões raiados dos franceses mostraram-se mais eficazes do que a artilharia austríaca, com peças de alma lisa. Os austríacos acabaram desalojados, em boa medida graças à habilidade dos zuavos da infantaria francesa e dos legionários estrangeiros.

Horrorizado com a carnificina da batalha, Napoleão III firmou apressadamente a paz com a Áustria. O Piemonte ganhou a Lombardia da Áustria e cedeu algumas áreas de língua francesa como contrapartida pelo apoio. A Áustria perdeu o controle de três ducados da Itália central, que votaram pela união com o Piemonte.

Carabineiro a pé do Reino das Duas Sicílias

A união parcial do norte da Itália provocou mudanças no sul. Em maio de 1860, Giuseppe Garibaldi e cerca de mil de seus camisas-vermelhas navegaram de Gênova, no Piemonte, para a Sicília, governada, juntamente com o restante do sul da Itália, por Francisco II, rei das Duas Sicílias.

Marchando para o interior da ilha, onde voluntários aderiram em massa à sua causa, Garibaldi derrotou um exército napolitano em Calatafimi e ocupou Palermo. Sob o olhar da Marinha Real britânica,Garibaldi voltou para o continente em agosto. Ocupou Nápoles praticamente sem luta, derrotou outra vez os napolitanos em Volturno, em outubro, e, em seguida, somou forças com um exército piemontês que marchava para o sul, a fim de sitiar em Gaeta o remanescente do exército napolitano, que se rendeu em fevereiro de 1861. Em março, Vítor Emanuel II tornou-se rei da Itália, embora o novo reino ainda não incorporasse o Vêneto e os Estados Pontifícios em torno de Roma.


Garibaldi lidera um ataque de seus camisas-vermelhas contra tropas napolitanas


Veneza e Roma

Em nova tentativa de unificação, a Itália aliou-se à Prússia na guerra contra a Áustria em junho de 1866 e invadiu o Vêneto. Os dois exércitos encontraram-se em Custoza, com os austríacos saindo-se vitoriosos, o mesmo acontecendo em Lissa. Mas a Prússia venceu a guerra e o Vêneto foi cedido à Itália em agosto de 1866.

A Guerra Franco-Prussiana permitiu à Itália apoderar-se de Roma quando a legião francesa que protegia a cidade se retirou em 1870. Tropas italianas ocuparam os Estados Pontifícios e entraram e Roma, que se tornou a nova capital nacional.
.

Após a unificação, o Reino da Itália continuou a se expandir e anexou terras austríacas de língua italiana nos Alpes, em 1919, após a derrota do Império Austro-Húngaro na 1ª Guerra Mundial. O Tirol do Sul, Trieste e Ístria foram cedidos à Itália pelo Tratado de Saint Germain. O Tratado de Latrão, de 1929, estabeleceu a Cidade do Vaticano como um Estado independente.

As duas guerras de curta duração transformaram a Itália, uma série de estados rivais e em boa medida controlados do exterior, em uma nação unificada, processo completado na década seguinte, quando as potências estrangeiras foram finalmente expulsas da península.



Fonte: Adaptado de War. Londres: DK Publishing, 2009



.

Nenhum comentário:

Postar um comentário