"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



terça-feira, 27 de julho de 2010

FORTE DE SAN MIGUEL

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O Forte de San Miguel localiza-se a cerca de 6 quilômetros a sul da Lagoa Mirim, próxima a Chuy, no Departamento de Rocha, no Uruguai. O forte foi erguido com a função de vigiar a antiga linha raiana denominada como Linha de Castillos Grande, estabelecida pelo Tratado de Madrid em 1750.

O forte situa-se no sopé da serra de San Miguel, a trinta e cinco metros acima do nível do mar. Apresenta planta no formato retangular, com baluartes pentagonais nos vértices, arrematados por guaritas. O perímetro de suas muralhas totaliza trezentos metros.

De menores proporções que a vizinha Fortaleza de Santa Teresa na região, recebeu um acabamento menos acurado devido à inexistência de pedras de granito no local, sendo empregada uma pedra granítica rosada que o caracteriza, em aparelho irregular.

Pátio interno do Forte San Miguel

Dadas as suas reduzidas dimensões, não foi possível construir rampas que unissem os planos superiores dos baluartes, onde se abrem dezoito canhoneiras no total, e o do terrapleno. Em conseqüência, acredita-se que a artilharia tenha sido transportada por força humana pelas escadarias, para as respectivas posições de tiro.

O acesso ao forte era feito por uma ponte levadiça sobre um fosso inundado. No terrapleno, no lado fronteiro à entrada, ergue-se o edifício da Capela. À direita, distribuem-se os edifícios da Cozinha e o Quartel da Tropa. No lado oposto, ficavam o poço, e os edifícios da Casa da Pólvora (Paiol), do Quartel do Comando e do Quartel dos Oficiais, protegidos pelas muralhas, cobertos por telhas em meia água.


Histórico de lutas

A estrutura remonta a uma simples fortificação de campanha, erguida em 1734 por forças espanholas sob o comando do Alferes Esteban del Castillo, com a função de dissuadir a presença portuguesa na região. Esta primitiva estrutura empregava tepes - pedaços de terra cobertos de grama ou ervas, endurecidos pela grande quantidade de enraizamentos. Com o estabelecimento do cerco espanhol à Colônia do Sacramento (1737), esta fortificação de campanha foi abandonada.

Posterirmente foram realizadas obras para um segundo estabelecimento no local, por forças portuguesas, atribuindo-se a sua reconstrução ao engenheiro militar Brigadeiro José da Silva Paes, com a função de posto avançado para monitorar as atividades espanholas na região da serra de São Miguel.

Sua planta apresentava o formato de um polígono retangular em alvenaria de pedra, com dois baluartes nos lados menores, separados por cortinas. Outros autores atribuem a autoria da planta ao arquiteto militar português Manuel Gomes Pereira, substituído mais tarde pelo Capitão Antônio Teixeira Carvalho.

Por volta de 1740, sua planta já evoluíra, apresentando o formato estrelado, com quatro baluartes pentagonais nos vértices em estilo Vauban, com as muralhas e as edificações internas de serviço erguidas em aparelho irregular de alvenaria de pedra.

O Artigo XVIII do Tratado de Madrid (1750), dispunha que Portugal conservava a linha do monte de Castillos Grande, com a sua falda meridional [Sul], e o poderá fortificar mantendo ali uma guarda.

Diante da assinatura do Tratado de El Pardo (1761), que, na prática, anulava o de Madrid, o governador e Capitão-general da capitania do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade (1733-1763), antecipou as consequências do mesmo para a região Sul, que conhecia bem. Assim, ordenou ao governador da Colônia do Rio Grande de São Pedro, Coronel Elói Madureira, o envio imediato de tropas de Laguna para a região, determinando o mesmo ao Tenente-coronel Tomás Luís Osório, comandante das tropas de Cavalaria do Regimento dos Dragões, e do Forte Jesus, Maria, José do Rio Pardo.

O interior do forte San Miguel

Reunindo pouco mais de mil homens, a estratégia portuguesa era a de construir rapidamente uma linha defensiva fortificada, ao Sul do Forte de São Miguel no arroio Chuí, para deter a invasão espanhola em progresso, após a conquista da Colônia do Sacramento, em outubro de 1762, pelo governador de Buenos Aires, D. Pedro de Ceballos, à frente de cerca de três mil homens reunidos em Maldonado. Dada a premência de tempo, apenas foi iniciado o Forte de Santa Teresa em dezembro de 1762, uma fortificação de campanha guarnecida por cerca de quatrocentos homens e artilhada com algumas peças de pequeno calibre, fechando o caminho terrestre na altura do monte de Castillos Grande, conquistado por Ceballos em Abril de 1763.

Prosseguindo a marcha sobre o Rio Grande de São Pedro, Ceballos conquistou em seguida o Forte de São Miguel (Abril de 1763). Na ocasião, os espanhóis procederam-lhe reparos e melhorias. Mais tarde, ante a iminência de uma invasão britânica em 1775, o engenheiro extraordinário D. Bernardo Lecocq, a serviço do Vice-reino do Prata, efetuou obras de reforço na estrutura do forte.

Com o Tratado de Santo Ildefonso (1777), a posse deste forte foi ratificada para a Espanha. Novos reparos foram efetuados pelas mesmas razões de 1775, em 1797. Em 1808, a banda oriental do rio da Prata foi anexada pelo príncipe-regente de Portugal D. João VI. Com a proclamação de independência das Províncias Unidas do Rio da Prata, em 7 de julho de 1816, e as agitações dela decorrentes, a Banda Oriental foi ocupada militarmente por uma força portuguesa de seis mil homens sob o comando do General Carlos Frederico Lecor, que entrou vitorioso em Montevidéu no ano de 1817. A luta prosseguiu até a derrota definitiva dos partidários da independência na batalha de Taquarembó, e a Banda Oriental foi anexada ao Brasil em 1821, com o nome de Província Cisplatina.

A partir de 1825 recomeçaram as lutas pela independência da região, que se arrastaram até 1828. Nesse ano, com o auxílio da diplomacia britânica, a região se tornou independente como República Oriental del Uruguay, em 7 de Agosto de 1828. Pelo Tratado de 15 de Maio de 1852, que estabeleceu a demarcação fronteiriça pela embocadura do arroio Chuí, ambos os fortes - San Miguel e Santa Teresa - permaneceram em território uruguaio.


O editor do BLOG junto às muralhas de San Miguel durante visita em 1993


O forte hoje

Em ruínas desde a Guerra da Independência do Uruguai (1825-1828), a história e a estrutura do forte foram resgatadas por uma comissão composta pelo General Campos, pelo General Baldomir e pelo historiador Horacio Arredondo, a partir de 1928, centenário da independência do Uruguai. A partir de 1933 o forte foi reconstruído de acordo com os planos originais, utilizando-se as técnicas de cantaria e de construção da época, restaurando-se as dependências da Casa do Comando, a Casa da Palamenta, a Capela, a Cozinha e os Quartéis da Tropa. O forte foi declarado como Monumento Nacional em 1937, intensificando-se, a partir de então, o seu processo de recuperação.

Sob a administração do Estado Maior do Exército da República Oriental do Uruguai, a estrutura encontra-se permanentemente aberta à visitação pública, abrigando um Museu de História Militar, onde se destacam a coleção de uniformes históricos das guarnições, e a mostra da evolução dos uniformes históricos daquele Exército. Uma série de aquarelas do artista Emílio Regalía ilustra o material em exibição.

Junto ao forte encontra-se o "Parador San Miguel", que permite a hospedagem neste sítio histórico.


Uniformes históricos do Exército Uruguaio em exposição no museu do forte


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