"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 14 de julho de 2010

FOGO NO CÉU

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Uma grande tragédia abalou o mundo no dia 1º de setembro de 1983: um Boeing 747 da Korean Airlines, que voava de Nova York para Seul, foi abatido por um caça soviético quando sobrevoava, por engano, o território russo.


Capa da revista Time relatando o ataque


Ao amanhecer do dia , exatamente às 6:26 h, uma forte explosão abalou o Boeing 747-100 da Korean Airlines, voo KAL 007 que ia de Nova York para Seul com 269 passageiros civis a bordo, incluindo 76 coreanos e 61 americanos, e o avião começa a cair em espiral em direção às águas geladas do mar do Japão, a oeste das bases militares secretas da Rússia nas ilhas Sacalinas. Morreram sem saber que haviam sido atingidos por dois mísseis disparados por um caça soviético Sukhoi Su-15, o primeiro arrancou um dos motores do Boeing e o outro provavelmente acertou a fuselagem.

Erro humano, provocação ou paranóia soviética por segurança? Diante de protestos internacionais, o governo soviético apresentou duas justificativas contraditórias: por um lado dizia que seus controladores de radar confundiram o KAL 007 com um avião espião e por outro acusava o avião coreano de estar a serviço da espionagem americana.

Mapa mostrando a diferença entre a rota planejada para o voo KAL 007 e a que foi efetivamente executada

Analistas rejeitam essas hipóteses: havia sim um avião de reconhecimento RC-135 que passara a 86 milhas do local duas horas antes, mas os pilotos militares russos saberiam diferenciar a silhueta de um RC-135 da de um Boeing 747, que é muito maior; apesar do treinamento militar, o piloto civil coreano não teria razões para arriscar a sua vida e a dos passageiros para colher informações que não seriam melhores do que as obtidas pelos satélites ou aviões especializados americanos. O problema é que, por algum motivo e apesar de todos os instrumentos de que dispunha, o piloto do KAL 007 se desviara de sua rota sobrevoando uma região estratégica para a União Soviética, que mantinha ali um centro naval, seis bases aéreas vitais, uma zona de testes de mísseis e um abrigo para seus submarinos nucleares com foguetes apontados para os EUA.


De acordo com os soviéticos, o Boeing 747 da Korean Airlines teria sido confundido com um RC-135 da Força Aérea dos EUA, como este que aparece na foto acima

Porém a caixa-preta nunca foi encontrada, embora as buscas tenham durado mais de dois meses e para se chegar a uma conclusão do que de fato ocorreu naquela manhã teriam que ser analisadas informações obtidas através de equipamentos ultra-secretos. Os Estados Unidos, munidos de gravações das transmissões de rádio, afirmavam que ele fora abatido a sangue frio.

Mas, em 1978, outro avião de carreira sul-coreano que também se desviara de sua rota havia sido atingido por um míssil russo. O Boeing 707 caíra quase 10.000 metros antes de estabilizar e fazer um pouso de emergência em um lago congelado perto de Murmansk, onde os sobreviventes foram socorridos pelos soviéticos, que dali em diante ficaram desconfiados das transgressões de seu espaço aéreo por aeronaves civis de países vizinhos.

Caça-interceptador Su-15 soviético

Em sua defesa o piloto do Su-15 afirmou que efetuou cerca de 120 disparos de aviso e emitiu um sinal IFF (Identification: Friend or Foe, ou Identificação: Amigo ou Inimigo), porém a gravação de suas transmissões não apóia tal afirmação. Pode ter havido um grave erro de avaliação da situação por parte do piloto do caça, dos operadores de radar e do comandante militar da área que ordenou o abate. Apesar das furiosas acusações e contra-acusações de diplomatas e políticos, ninguém queria que o incidente se transformasse numa confrontação entre as duas grandes potências, que à época estavam em Genebra negociando detalhes de um tratado para controle de armas nucleares.

Por isso os Estados Unidos manifestaram sua indignação com o ocorrido, mas procuraram contemporizar e evitar maiores investigações sobre a tragédia. Assim a respostas a muitas perguntas jazem com os ocupantes do KAL 007, a mais de 6.000 metros de profundidade, nas águas escuras do Mar do Japão.  O episódio somou-se a muitos outros atritos entre as duas superpotências durante a Guerra Fria.

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