"No próprio dia da batalha, as verdades podem ser pinçadas em toda a sua nudez, perguntando apenas;
porém, na manhã seguinte, elas já terão começado a trajar seus uniformes."

(Sir Ian Hamilton)



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

FORTE DO BRUM



O Forte de São João Batista do Brum localiza-se no bairro do Recife, cidade do Recife, estado de Pernambuco, no Brasil. Primitivamente, erguia-se ao Norte da povoação do Recife, no istmo de areia que a ligava a Olinda.
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Antecedentes

Sobre os alicerces de uma antiga trincheira portuguesa, conquistada pelo corsário inglês James Lancaster em abril de 1595, os holandeses edificaram um fortim, o qual foi abandonado posteriormente e denominado pelos portugueses de Forte de São Jorge. Na iminência da segunda das invasões holandesas no Brasil (1630-1654), face à precariedade das defesas do Recife, o Superintendente da Guerra da Capitania de Pernambuco, Matias de Albuquerque (c.1590-1647), ordenou a demolição do arruinado Forte de São Jorge, e com o material deste, e a sua artilharia, a construção de um novo forte.
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O domínio holandês

O Forte Novo de São Jorge teve sua construção iniciada em outubro de 1629, com projeto do engenheiro militar português Diogo Pais, e com as suas obras a cargo do Sargento-mor Engenheiro Pedro Correia da Gama, a ser artilhado com vinte e quatro peças de diferentes calibres. Foi invadido pelos holandeses em fevereiro de 1630, ainda na fase inicial de suas obras, quando não devia passar de uma simples bateria ou entrincheiramento. Incompleto e danificado pelo assalto, foi concluído a partir de abril de 1630 pelos engenheiros holandeses Tobias Commersteyn, Andréas Drewich e Pieter van Bueren. Foi denominado Forte Bruyne (por corruptela, Brum), em homenagem a Johan Bruyne, integrante do Conselho de Comissários que governou o Brasil holandês.

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Fachada principal do Forte do Brum
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Sua estrutura era uma forte estacada dupla de madeira preenchida com areia, contratada por empreitada com o Alferes do Capitão Ellert, Ludolf Nieuwenhuysen e com o Sargento do Capitão Craey, Joris Bos. Sobre esta estrutura, Maurício de Nassau, no "Breve Discurso" de 14 de janeiro de 1638, sob o tópico "Fortificações", reporta:

"Adiante do Castelo de São Jorge, sobre a praia de areia que vai ter à cidade de Olinda, está o forte de Bruyne. É quadrangular, tem do lado do mar somente meios baluartes pequenos, e do lado do rio [Biberibe] baluartes inteiros e acabados. Acha-se em boa ordem e em perfeito estado, mas não tem fosso e nem as necessárias paliçadas. Há diante dele um hornaveque que está um tanto estragado. A tiro de mosquete deste hornaveque fica um reduto que serve de guarda-avançada."
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O "Relatório sobre o estado das Capitanias conquistadas no Brasil", de autoria de Adriaen van der Dussen, datado de 4 de abril de 1640, complementa, atribuindo-lhe a Companhia do Sr. Ghijselin com um efetivo de 125 homens:

"À distância de um tiro longo de mosquete do Castelo de São Jorge em direção à cidade de Olinda, fica o forte de Bruyn, que é um forte de quatro baluartes, se bem que, do lado do mar, em consequência do descaimento da praia, os baluartes e os flancos não puderam ser completados; possui um hornaveque, não tem fosso mas uma sólida paliçada em torno, sendo o forte de uma altura regular. Nele há 7 canhões de bronze a saber: 2 de 24 libras, 1 de 18 [lb], 1 de 16 [lb] (sendo uma peça espanhola), 1 de 10 lb, também [peça] espanhola, e 2 bombardas de 6 lb, todos montados."
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Gaspar Barléu, em, sua obra O Brasil Holandês sob o Conde João Maurício de Nassau transcreve a informação: "(...) Não longe do Forte de São Jorge, avista-se o do Brum com quatro bastiões e sete peças de bronze, fechado, demais, com a sua estacada". Atribui-lhe o mesmo efetivo de 125 homens.

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O editor do BLOG História Militar ao lado dos restos mortais de um soldado luso-brasileiro exumado dos Montes Guararapes e conservado no Museu Militar do Forte do Brum;

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O forte figura, ainda, nos mapas de Frans Post (1612-1680) da Ilha de Antônio Vaz (1637), e de Mauritiopolis (1645. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro), e no mapa "A Cidade Maurícia em 1644", de Cornelis Golijath.
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A reconquista portuguesa

Reconquistado por forças portuguesas ao final do conflito (1654), quando estava artilhado com quatorze peças, foi rebatizado como Forte de São João Batista. O governador da Capitania de Pernambuco, Bernardo de Miranda Henriques, solicitou à Coroa permissão para restaurar o forte, tendo em vista sua importância para a defesa da Capitania. Com a nomeação de Antônio Correia Pinto para o cargo de Engenheiro da Capitania de Pernambuco, em dezembro de 1668, foi elaborada a planta para a sua reconstrução, cujas obras ficam a cargo da Câmara Municipal de Olinda, empregando-se a pedra retirada das ruínas abandonadas do Forte de São Jorge Novo (arenito retirado dos recifes).
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A partir de 1671 as obras passam à responsabilidade de João Fernandes Vieira (1602-1681), no cargo de Superintendente das Obras de Fortificação da Capitania de Pernambuco, acrescentando-se-lhe um fosso inundado no exterior, protegido por um pequeno muro. As obras foram concluídas em 1690, no governo de Antônio Luiz Gonsalves da Câmara, embora algumas obras de menor porte tenham prosseguido até 1715.



O século XIX

O forte foi palco de diversos conflitos registrados na Província na primeira metade do século XIX. Durante a Revolução Pernambucana (1817), após o assassinato do Brigadeiro Barbosa de Castro pelo Capitão José de Barros (o "Leão Coroado") no Forte de São Tiago das Cinco Pontas, o Governador e Capitão-general da Província de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro (1804-1817), refugiou-se no Forte do Brum. Sem meios de defesa ante o assalto dos rebeldes, o governador foi forçado a capitular, em 7 de março, e a embarcar para o Rio de Janeiro.

Em 1823 o Comandante das Armas da Província, Coronel Joaquim José de Almeida, foi detido neste forte, pelo povo e pela tropa, amotinados.

Durante a Confederação do Equador (1824), nele também foi detido o chefe da Junta Governativa nomeado pela Câmara de Olinda, Manuel de Carvalho Pais de Andrade. Sua guarnição se revoltou, libertando-o, iniciando o conflito, que se encerrou com a ocupação do forte no dia 17 de setembro de 1824.

Durante a Revolução Praieira de 1848, o forte serviu como prisão política, conforme a "Lista dos Cidadãos que se achavam presos em Pernambuco em 2 de maio de 1849".

Do fim do Império aos nossos dias
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O forte foi reparado em 1886, e foram feitas melhorias, no montante de 11:888$000 réis, em 1889. Em 1907 exigia reparos gerais, particularmente no esgoto e na iluminação, tendo-se providenciado o mais urgente em 1908, e se destinado uma verba de 14:000$000 réis para o ano de 1909.

Com a eclosão da 1ª Guerra Mundial (1914-1918), foi guarnecido, a partir de 1915, pela 2ª Bateria do 4º Batalhão de Posição da Bahia.
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A partir de 1934, o General Manoel Rabelo cogitou reformar as suas instalações para aí instalar um Museu Militar. Permanecia abandonado ainda em 1938, abrigando famílias de baixa renda. De propriedade do governo do Estado de Pernambuco, foi tombado pelo IPHAN em 1938. Em meados do século XX, serviu como depósito da 7ª Região Militar e como junta de alistamento militar.

O forte passou por pesquisa arqueológica parcial em 1985, pelo Laboratório de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco, em colaboração com o Comando Militar do Nordeste, a 7ª Região Militar e a Fundação Joaquim Nabuco. Na ocasião foi pesquisada a Praça de Armas, descobrindo-se algumas das primitivas estruturas do forte, inclusive a cacimba de água.



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Atualmente administrado pelo Exército Brasileiro, o Forte do Brum encontra-se restaurado e aberto ao público, abrigando, desde 5 de janeiro de 1987, o Museu Militar do Forte do Brum (MMFB), que exibe armamento e peças arqueológicas.

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